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Muito se sabe que o desenvolvimento da economia de mercado como modo de produção predominante na sociedade global, estruturou diversas formas de produção dos espaços. Esses espaços, muito mais que um recorte geométrico, são os ambientes das relações sociais. Toda sociedade depende, para a reprodução das suas relações e o acontecer da força de trabalho, de um espaço e assim, em uma relação contraditória e dialética, um é dependente do outro. Desse modo, é importante pensar sociedade e espaço juntos, ou seja, em relação dialética e, ao mesmo tempo, contraditória. Assim utilizemos sócio-espacial, desconsiderando totalmente o sócioespacial, orientado pela norma gramatical.
Ao mesmo tempo em que o desenvolvimento da economia de mercado ocorre se manifestam as desigualdades sociais. Ocorre que essas desigualdades se manifestam devido também ao crescimento concentrado em termos de renda ou também porque a renda da classe trabalhadora não acompanha o crescimento da renda das classes mais abastadas.
Essa desigualdade econômica também se manifesta e é representada na paisagem, na forma, na estrutura das cidades. Na Geografia percebemos esse processo a partir da influência dos agentes produtores do espaço (Estado, proprietários de terras, promotores imobiliários e os grupos sociais excluídos e aqui cabe acrescentar os grupos marginalizados). Outra forma de entender é a partir da ideia de Milton Santos, utilizando as noções de estrutura, processo, forma e função.
Nesse sentido, a interpretação do espaço e, no caso desse texto, a cidade, é influenciada pelas características do modo de produção em que a ela está inserida. A produção capitalista do espaço, baseada na economia de mercado, cria e recria desigualdades sócio-espaciais significativas e em muitas vezes há a coexistência e a justaposição desses espaços desiguais. A noção marginalização sócio-espacial se incorpora nesse quesito. A foto (Rocinha, Rio de Janeiro) a seguir mostra a diferenciação dos modelos de habitação mostrando uma configuração espacial na cidade da desigualdade sócio-espacial.
Foto minha
Mas o que é cidade? Essa pergunta parece ser simples de responder, porém esconde vários meandros se respondida objetivamente como uma estrutura de habitação que, nela, se encontra as atividades necessárias a reprodução social. O geógrafo Roberto Lobato Correa entende a cidade ou o espaço urbano como um conjunto de usos justapostos. Para nós, a cidade é um ambiente de usos complexos (as)sistemático que se estrutura por meio de uma dinâmica em que a reprodução das relações sociais se justapõe e conflitam de modo que se reproduz e reproduz o modo de produção. Este, em primeiro ou segundo plano está sempre presente.
Outra pergunta que deve ser respondida aqui é o que significa ou quer dizer a noção de marginalização sócio-espacial? Essa resposta também não é tão simples. A ideia de marginalização soa no senso comum como algo que está à margem de algo. Essa é a resposta que se encontra de imediato porque de início se considerou essa noção de marginalização ligada a diferenciação entre centro e periferia para o espaço, ou seja, o centro mais infraestruturado que a periferia. Entretanto, essa resposta é superficial para nossa interpretação.
Para entender a marginalização sócio-espacial iniciamos buscando perceber a ideia de marginalidade social, pelas quais é entendida como a relação que a classe trabalhadora tem com o mundo do trabalho. O trabalhador é marginalizado ao mesmo tempo em que o mundo do trabalho requer menor demanda pelo trabalho humano quando emprega novas tecnologias que o substituem e aumenta a produtividade, bem como a capacidade de lucro do proprietário dos meios de produção. E nessa lógica o trabalhador, como diz José Nun, está sujeito a funcionalidade, a disfuncionalidade e a afuncionalidade dentro do sistema de produção. Lúcio Kowarick, por sua vez, entende, e não discordando de José Nun, como um corte horizontal que separa as bases do sistema produtivo (classe trabalhadora) e os segmentos superiores.
Entendendo o que significa marginalidade social, incorporemos o espaço, tendo em vista que não se pode separar a sociedade e o espaço por sua própria natureza. A produção capitalista do espaço produz o efeito da segregação espacial decorrente do próprio sistema que cria e recria as desigualdades sociais e econômicas. Há em meio a produção do espaço a seletividade espacial em que os agentes produtores do espaço empenham forças, conforme seus interesses, para reproduzir o espaço, cada um com seu papel embora desempenhem funções distintas.
Se retornarmos ao período da II Revolução Industrial percebemos, através dos estudos de campo de Friedrich Engels quando interpreta a situação da classe trabalhadora no Reino Unido, com destaque para a cidade de Manchester, que a classe trabalhadora esteve sempre vulnerável espacialmente onde as infraestrutura era mínima, habitação em condições subumanas, expostas a epidemias, ao crime, a fome, no nível de consumo de bens e serviços (quando ocorria).
A segregação espacial ocorre se aproveitando das áreas de valorização do capital, implicando, como afirmam Minor Salas e Franklin Castro, nos usos diferenciais do nível da renda influenciando em usos diferenciais e funcionais do espaço. Isso quer dizer que os agentes produtores do espaço irão investir de modos distintos no espaço e também na cidade sempre em conformidade com o nível da renda da população.
O bem-estar social, nesse sentido, é ameaçado devido a segregação social que imputa ao espaço uma organização associada ao nível da renda da população e aliena a classe trabalhadora ao acesso, ao uso e consumo da cidade.
Podemos, portanto, entender a noção de marginalização sócio-espacial como não decorrente da diferenciação entre centro e periferia, mas dentro da lógica do próprio modo de produção que se apropria da cidade como um artifício para a reprodução do capital, criando dessa forma espaço privilegiados e não privilegiados.
E o que o álbum Raio-X do Brasil do Racionais MC's tem a ver com essa noção de marginalização sócio-espacial?
A obra que o Racionais MC's foi construída alinhado a essa ideia de marginalidade social e exclusão social, buscando, sempre, expor os problemas vividos nas periferias e pelos periféricos nos centros com muita propriedade e postura política.
A "diferenciação" observada nas características espaciais e isso impactando as cidades que foi mostrada anteriormente se percebe com muita facilidade no contexto brasileiro. Francisco de Oliveira trata esse assunto com muita propriedade. Ele percebe em seus estudos que, diferentemente dos países de capitalismo maduro (este relacionado aos países que passaram pelo processo evolutivo do mundo do trabalho industrial) o Brasil não adotou um projeto de estruturação da classe trabalhadora como um elemento significativo na dinâmica econômica doméstica. Pelo contrário, o histórico industrial do país projeta a desestruturação da classe trabalhadora como um pressuposto ao crescimento econômico.
Nesse sentido, pode-se associar os interesses da classe burguesa pela exploração de uma mão de obra desestruturação social, econômica e politicamente. Veja, o governo brasileiro criou as leis trabalhistas para trabalhadores no setor industrial ainda em um período em que as cidades tinham pouca representatividade como um espaço de produção, haja vista que a economia cafeeira era a predominante além de outras atividades agrícolas.
O contexto da entrada do Brasil como predominantemente urbano é um assunto que em outro momento pode ser explorado. Isso aconteceu somente na segunda metade do século XX estimulado, principalmente, pelas políticas de desenvolvimento industrial sob o discurso da modernização do país.
Mas voltando ao assunto Raio-X do Brasil, se utiliza aqui de recortes específicos de cada música do disco e se faz breves comentários tentando a associação com a noção de marginalidade sócio-espacial.
A primeira música, "Fim de semana no parque", apresenta imediatamente o ouvinte em um significativo ambiente produzido de modo desigual. Isso é marcante porque evidencia os frutos de má distribuição da renda no país, elemento esse que é marcante na história do Brasil industrial e urbano.
[...] mês de janeiro, São Paulo, zona sul / 1, 2, 3 carros na calçada/
feliz e agitada toda playboyzada /
lavam os carros, desperdiçam a água eles fazem a festa / olhe o meu povo nas
favelas e vai perceber / daqui eu vejo uma caranga do ano / com seus filhos ao
lado / estão indo ao parque / eufóricos, brinquedos eletrônicos /
automaticamente eu imagino a molecada lá da área como é que tá / provavelmente
correndo pra lá e pra cá / jogando bola descalço nas ruas de terra / eles não
tem videogame as vezes nem televisão / eles também gostariam de ter bicicleta /
gostam de ir ao parque se divertir
Aqui há a dualização do espaço urbano (como diria Villaça intra-urbano) associado diretamente a capacidade de consumo dos seus respectivos habitantes. Apresenta ainda algo mais grave no sentido da marginalização sócio-espacial que é a de que os espaços são estruturados de acordo com essa capacidade de consumo e a não capacidade o deixa alheio as diversão no parque e, até mesmo, a felicidade.
[...] olha só aquele clube que da hora, olha aquela quadra, olha aquele
campo, olha / olha quanta gente, tem sorveteria, cinema, piscina quente / olha
quanto boy, olha quanta mina / tem
corrida de kart dá pra ver / é
igualzinho o que eu vi ontem na tv / olha o pretinho vendo tudo do lado de fora
/ ele apenas sonha através do muro / milhares de casas amontoadas, ruas de
terra esse é o morro / gritaria na feira (vamo chegando) / eu gosto disso mais
calor humano / na periferia alegria é igual / é lá que mora meus irmãos, meus
amigos / e a maioria por aqui se parece comigo
Ainda nesse fragmento mostra o espaço intra-urbano de modo dual, mas que, vale lembrar, pertencente ao mesmo processo histórico-social. Se incorpora também no discurso do Racionais MC's o componente racial e, de modo preciso, o grupo aponta para o viés de que a urbanização brasileira expressa racismo existente em sua estrutura. Haja vista que as piores condições habitacionais estão entre os negros. Isso é resultado e tem de ser enfatizado e discutido pelo modelo de transição da sociedade colonial agroexportadora para uma sociedade industrial, majoritariamente.
[...] aqui não vejo nenhum clube poliesportivo / pra molecada frequentar
nenhum incentivo / o investimento no lazer é muito escasso / o centro
comunitário é um fracasso / mas aí, se quiser se destruir está no lugar certo /
tem bebida e cocaína sempre por perto / a cada esquina 100, 200 metros /
Schimith, Taurus, Rossi, Dreher ou Campari / nomes estrangeiros que estão no
nosso meio para matar / tô cansado dessa porra de toda essa bobagem /
alcoolismo, vingança, treta malandragem / mãe angustiada, filho problemático,
famílias destruídas, fins de semana trágicos / fim de semana no Parque Ipê
Após a dualização o Racionais MC's inteligentemente elaboração uma comparação entre a percepção de parque do ponto de vista da periferia e da playboyzada, pra min isso foi genial. Além disso, o grupo aponta que essa desestrutura espacial é intencionalmente provocada pelo sistema e o Estado como provedor de bem-estar social pouco ou nada contribui para que a periferia não se destrua com o que o sistema oferece.
Na segunda música, "Mano na porta do bar", adentramos a experiência na perspectiva da dimensão vivida pelo sujeito na periferia. Percebemos aqui que o ambiente e a influencia que o sistema exerce sobre a população periférica, como foi finalizada na primeira música, de modo sistematizado.
[...] tem poucos bens mais que nada / um fusca 73 e uma mina apaixonada
/ uma vida humilde, porém sossegada / um bom filho, um bom irmão / um cidadão
comum com um pouco de ambição / você viu aquele mano na porta do bar? / você
viu aquele mano na porta do bar? / ultimamente andei ouvindo ele reclamar que a
sua falta de dinheiro era problema / que sua vida pacata já não vale a pena /
queria ter um carro confortável / queria ser um cara notado / na lei da selva
consumir é necessário / compre mais, compre mais / supere seu adversário / o
seu status depende da tragédia de
alguém / é isso, capitalismo selvagem / você viu aquele mano na porta do bar? /
ele mudou de mais de um tempo pra cá / ele está diferente não é como antes /
agora anda armado a todo instante / transformação radical no estilo de vida /
ontem sossegado, hoje um homicida / ontem a casa caiu com uma rajada nas costas
A terceira música, "Homem na estrada", é um verdadeiro tour na periferia de modo que sensibiliza o ouvinte menos informado da realidade periférica para o cotidiano desses espaços.
O homem na estrada recomeça a sua vida, sua finalidade: a sua liberdade
/ que foi perdida, subtraída e quer provar a si mesmo que realmente mudou, que
se recuperou e que viver em paz / não olhar para trás e dizer ao crime nunca
mais / pois sua infância não foi um mar de rosas não / na Febem lembranças
dolorosas então / sim, ganhar dinheiro ficar rico enfim / muitos morreram sim, sonhando assim / me diga
quem é feliz, quem não se desespera / vendo nascer seu filho no berço da
miséria / um lugar que só tinha como atração um bar e um candomblé pra se tomar
a benção / esse é o palco da história que por min será contada
Ora, se na primeira música tivemos um choque sobre o espaço intra-urbano dual e ao mesmo tempo antagônicos, nessa faz refletir sobre o que é violência e para isso é importante perceber o que diz Michel Misse quando destaca a acumulação da violência como um produto do processo histórico intimamente ligado ao modo de reprodução do sistema de produção, ou seja, da economia de mercado.
[...] equilibrado num barranco cômodo, mal acabado e sujo / porém seu
único lar, seu bem e seu refúgio / um cheiro horrível de esgoto no quintal /
por cima ou por baixo, se chover será fatal / um pedaço do inferno aqui é onde
eu estou / até o IBGE passou aqui e nunca mais voltou / numerou os barracos,
fez uma pá de perguntas / logo depois esqueceram, filha da puta! / acharam uma
mina morta e estuprada / deu meia noite e o corpo ainda estava lá / coberto com
lençol, ressecado pelo sol / jogado, o IML estava só 10 horas atrasados / sim,
ganhar dinheiro ficar rico enfim / quero que meu filho nem se lembre daqui /
tenha uma vida segura, não quero que ele cresça / com um oitão na cintura e uma
pt na cabeça / o resto da madrugada sem dormir ele pensa / o que fazer para
sair dessa situação? / desempregado, então / com má reputação / viveu na
detenção / ninguém confia não / e a vida desse homem para sempre foi danificada
Nesse trecho fica claro o que José Nun discorreu sobre funcionalização, disfuncionalização e afuncionalização da classe trabalhadora com o mundo do trabalho. No contexto brasileiro é de progressiva pauperização e essa característica sócio-econômica se reproduz no espaço em formas de más condições de habitação e ocupação em áreas de risco.
[...] amanhece mais um dia e tudo é exatamente igual / calor
insuportável 28° / faltou água já é rotina, monotonia / não tem prazo pra
voltar, já fazem 5 dias / são 10 horas a rua está agitada / uma ambulância foi
chamada com extrema urgência / estourou a própria mãe estava embriagado /
arrastado pela rua o pobre do elemento / inevitável linchamento / os ricos
fazem campanha contra as drogas e falam sobre o poder destrutivo delas / por
outro, lado promovem e ganham muito dinheiro com o álcool que é vendido na
favela / empapuçado ele sai, vai dar um rolê
/ não acredita no que ver, não daquela maneira / crianças, gatos, cachorros
disputam palmo a palmo seu café da manhã
na lateral da feira / molecada sem futuro já consigo ver / só vão na
escola pra comer, apenas nada mais / como é que vão aprender sem incentivo de
alguém, sem orgulho, sem respeito, sem paz
Mais uma vez o grupo genialmente elabora uma estrutura narrativa e faz uma crítica relevante sobre o sistema sócio-econômico de reprodução da economia de mercado. O grupo constrói uma estrutura sob o pressuposto do problemas das drogas e destaca o álcool como uma droga altamente destrutiva. O que marca é que a indústria de alimentos e bebidas, historicamente, se constituiu como uma das mais importantes no contexto da dinâmica de produção e consumo nas cidades. Isso quer dizer que há uma crítica ao modelo de industrial, principalmente a industria do álcool que impacta fortemente na vida da população da periferia como um artifício do sistema.
[...] um mano meu tava ganhando
um dinheiro / tinha comprado um carro, até Rolex tinha / foi fuzilado à queima
roupa no colégio / abastecendo a playboyzada
de farinha / ficou famoso, virou notícia / rendeu dinheiro aos jornais, hãm, cartaz a polícia / 20 anos de idade
/ alcançou os primeiros lugares / superstar do Notícias Populares / uma semana
depois chegou o crack / gente rica
por trás, diretoria / aqui periferia miséria é de sobra / um salário por dia
garante a mão de obra / a clientela tem grana e compra bem / tudo em casa, costa
quente de sócio / vender droga por aqui, grande negócio / sim, ganhar dinheiro
ficar rico enfim / quero um futuro melhor não quero morrer assim / num
necrotério qualquer, um indigente sem nome sem nada
São dois caminhos para a recuperação de um ex-apenado dentro do que a sociedade julga correto: uma apresentada no fragmento acima pela qual o resultado é amplamente conhecido na periferia por ser um empreendimento lucrativo e de destino degradante e o segundo descrito abaixo:
[...] como se fosse uma doença incurável no seu braço a tatuagem / DVC,
uma passagem / 157 na lei, do seu lado não tem mais ninguém / a justiça criminal
é implacável / tiram sua liberdade, família e moral mesmo longe do sistema
carcerário / te chamarão pra sempre de ex-presidiário
Essa saída é contestável devido a exclusão, não marginalização, do ex-apenado do mundo do trabalho por seus antecedentes criminais.
Por fim, a música "Júri racional" é um sopro de autoestima e luta por liberdade. Busca-se, nela, apontar uma direção para que os jovens da periferia busquem driblar o sistema e se tornar o efeito colateral entendendo a sua realidade e se posicionando frente a imposição desse cotidiano violento.
[...] a inferioridade que você
sente no fundo dá aos racistas imundos razões o bastante pra prosseguirem nos
fodendo como antes / ovelha branca da raça, traidor / vendeu a alma ao inimigo,
renegou sua cor / mas nosso júri é racional não falha / não somos fãs de
canalha / gosto de Nelson Mandela, admiro Spike Lee / Zumbi um grande herói, o
maior daqui / são importantes para min, mas você ri dá as costas / então acho
que sei da porra que você gosta / se vestir como playboy, frequentar danceteria, agradar as vagabundas, ver novela
todo dia, que merda! / se esse é seu ideal é lamentável / porém não quero, não
posso, sou negro, não vou admitir / do que vale a negritude se não pô-la em
pratica / a principal tática, herança da nossa Mãe África / escravizaram sua mente
/ muitos da nossa gente / mas você não demonstra interesse em se libertar/ essa
é a questão, autovalorização / esse é o título da nossa Revolução
Nesse fragmento o que se aborda é que os artifícios criados pelo sistema (atores hegemônicos) que foram mostrados claramente no decorrer do disco sejam combatidos pela luta negra por liberdade. Assim, a Revolução ocorrerá e a periferia poderá se ver livre dessas amarras.
Encerramos essa análise afirmando que a noção de marginalidade sócio-espacial está presente também na perspectiva da arte periférica. Pois, a construção da narrativa e os elementos que a compõe estão alinhados tanto a percepção quanto a experiência sócio-econômica que os indivíduos tem com o mundo do trabalho. O resultado disso é que o espaço intra-urbano é dotado de desigualdade sócio-espaciais, sócio-econômicas, sócio-políticas, culturais, etc, estes elementos estão pairando no próprio ar da periferia, mas perceber isso é algo pouco acessível. É por isso que é fundamental pra quem é ouvinte de RAP e/ou Hip-Hop retomar aos discos clássicos e, assim, entender o que se pensava e como esse movimento está intimamente ligada aos movimentos libertários.
OUÇA O DISCO: RACIONAIS MC's - RAIO-X DO BRASIL