segunda-feira, 6 de maio de 2019

Tungstênio, poesia sobre RESISTÊNCIA


Dá pra ouvir pelos links: SpotifyGoogle Podcast e Apple Podcasts

Ouça o álbum Tungstênio: SpotifyYouTubeYouTube - Playlist

A Geografia (e não geografia) tem forte ligação com os movimentos culturais porque é também objeto de interpretação da nossa realidade. Além disso, a Geografia busca interpretar as relações espaciais (de espaço geográfico) que dentre outros elementos contém a sociedade e como ela se desenvolve no tempo e no próprio espaço. Portanto, o R.A.P/Hip-Hop é também objeto de interpretação geográfica.

O R.A.P./Hip-Hop são, de modo geral, produtos da experiência que sujeitos de determinados seguimentos da sociedade possuem com o meio urbano. O urbano é um dos campos de estudo da Geografia que busca entendê-lo se apropriando das dimensões histórica, antropológica, sociológica, econômica, socioambiental, entre outras.
Foi no meio urbano que se manifestaram as primeiras reuniões relacionadas ao R.A.P/Hip-Hop em São Paulo, levando da periferia para o centro jovens interessados na cultura. Entretanto, o aparato estatal se movimentou para contê-los no sentido de marginalizar e, até mesmo, acabar com  esses encontros culturais se justificando, sobretudo, pelo argumento que predominou nos discursos transmitidos e massificados pela influência dos meios de comunicação, forjando o discurso de classes sociais privilegiadas e que não concordavam com essas manifestações sócio-culturais. Mas, o R.A.P/Hip-Hop RESISTIU.

É disso que queremos falar: Espaço, Resistência e Tungstênio.
Acredito que o álbum Tungstênio, do Inquérito, trata muito bem do que disse há pouco. Tungstênio é um elemento químico, mas também um álbum muito relevante para o R.A.P/Hip-Hop nesse momento. Tenho por esse álbum um carinho especial. Primeiro por acompanhar o Inquérito desde meus primeiros acessos a internet através do álbum Mudança, quando buscava uma palavra de estímulo e motivação; segundo por sempre esperar ótimas letras e conceito na música; terceiro pelas participações, em especial do Diomedes Chinaski.

O Tungstênio é destacável por suas características que inspiram RESISTÊNCIA. Está presente e é necessário em vários equipamentos do nosso cotidiano ocupando espaços e funções importantes que não imaginamos, isso é RESISTÊNCIA. Ainda tem como característica o seu alto ponto de fusão impossibilitando, inclusive, sua extração quando há certa quantidade de impureza no mineral, com destaque para Scheelita. Está também na indústria bélica e do aço.  Tungstênio é RESISTÊNCIA.

O R.A.P/Hip-Hop é, até por sua história,  RESISTÊNCIA também, sendo essa uma característica fundamental para a manutenção da cultura como "estrada" (como já cantou o Inquérito em Corpo e Alma) para a periferia. O R.A.P/Hip-Hop como RESISTÊNCIA é mostrado na faixa Lição de Casa. Pra min essa é uma faixa conceitual e muito necessária para o momento em que a cultura vive, podendo ser o piloto necessário para RESISTIR a Turbulência.

O álbum Tungstênio se desenvolve em torno dessa ideia que o Tungstênio traz em termos relativos às propriedades que envolvem o processo de escrita. Na minha visão, o álbum percorre através da busca pelo estímulo para lutar como forma de RESISTÊNCIA; lutar na perspectiva de criar esperança em dias melhores; a busca pela superação buscando e agregando informação como tática nessa luta do cotidiano em que quem faz a máquina girar é invisibilizado.

- "Avisa a vida que não vou parar, tenho laços fortes vou fazer acontecer..."

O álbum encerra com a música Cafuné com Caneta, mostrando que a escrita não  é algo vazio, mas que possui nesse processo dimensões essenciais como história, amor, luta, esperança e RESISTÊNCIA.

Na perspectiva espacial, o Tungstênio compõe uma cadeia produtiva do sistema industrial local e global. O espaço sofre essa influência, modificando-se por vias do atendimento a essa dinâmica e, ao mesmo tempo, organiza outra dinâmica em torno da reprodução do capital urbano. Quero dizer que a estruturação de uma industria vai influir na urbanização de um local que está envolto a essa dinâmica. Esse é o caso de Currais Novos, município que abriga a Mina Brejuí localizada no Rio Grande do Norte, especializada na mineração da Scheelita.

Essa mesma estrutura que contribui com o desenvolvimento é, de forma lógica, contraditória por reproduzir estruturas de poder e dominação sobre a dinâmica social e espacial. As pessoas anônimas são, por isso, os espoliados do desenvolvimento social e espacial, mas, contraditóriamente, sustentam essa máquina.

Por isso, a palavra RESISTÊNCIA soe pra min, nesse álbum, como uma palavra de suma importância para nosso momento enquanto sociedade invisibilizada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário